terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Mémés a pastar

Pensavam que eu já cá não vinha mais? Nada disso. Só não tinha nada de interessante para vos contar.
Mas eis que fui passar o fim-de-semana fora e resolvi vir contar tão bela experiência.

Primeiro, e apenas a título de enquadramento, dizer-vos que esta vossa amiga e o seu ilustre marido são o casal mais nada a ver do mundo. Somos diametralmente opostos e não me venham cá com tretas de que os opostos se atraem. Estes dois opostos em particular repelem-se muuuuuuito, quando um dos opostos se apresenta de capacete e blusão e botas, mais parece um boneco da Michelin ou um astronauta.
O outro oposto (sou eu, muito prazer), gosta de uma tarde de esplanada, um bom brunch, um SPA, uma tarde de compras, c'mon, vocês conhecem-me...

E depois entra a parte das "cedências". Ah e tal, para que um casamento resulte é preciso fazer cedências. Pronto, está bem, eu faço cedências. Vamos passar o fim-de-semana a um SPA Hotel. Em troca, não se leva carro. Opção?... Mota. Er... está bem. Eu cedo.

Automaticamente o meu cérebro começou a trabalhar mais depressa do que a minha capacidade de dizer "no way". E o que o meu cérebro pensou foi: "Onde é que eu vou levar as minhas coisas todas?! "É que na top case - aprendi que aquela cena de guardar coisas que as motas têm chama-se top case e não coisa - não me parecia sequer caber o meu secador de cabelo.*

Reduzi a minha lista de musts a meia dúzia de pecinhas. Não tinha intenções muito diferentes de passar o fim-de-semana com um fato de banho e um robe turco, portanto... fair enough.

Equipei-me devidamente para a viagem propriamente dita: collants polares, calças bem justas para não entrar frio, calças impermeáveis, três camisolas, dois blusões e um infinito (um infinito é uma cena daquelas de aquecer o pescoço, que não são cachecóis). Não chovia. Por enquanto.

Fim-de-semana fantástico, a mota ficou estacionada no parque do Hotel. A pessoa ficou de molho numa pisicina a 30º, massagens, boa comidinha... era mesmo isto.

No regresso a Lisboa (fomos para Tróia), marido fica incumbido de ver os horários do ferry. Ok, apontamos para este e lá vamos nós. À chegada à bilheteira, o senhor simpático (#not) diz que não há nenhum àquela hora. Mr. Husband tinha visto sentido Setúbal-Tróia e não Tróia-Setúbal. 10 pontos para ti, querido. Nem checar os horários do ferry eu posso delegar. #nãoosopostosnaoseatraem

Marido resolve sozinho que já que falta meia hora, vamos por Alcácer, porque não quer esperar meia hora. Na verdade, a vantagem (para ele) de eu estar em cima de uma mota é que não tenho oportunidade de opinar, porque não nos ouvimos. Obviamente eu teria optado por esperar a tal meia hora, porque aquela meia hora de espera seria rapidamente compensada pelo encurtamento da distância. Mas toda a gente sabe que os homens não têm a mesma lógica de raciocínio que nós, mulheres. É um handicap deles. É aceitar a limitação e pronto. E enquanto faço este raciocínio, já ele arrancou para Alcácer. 147 km à minha espera.

Nisto começa a chover torrencialmente. É nesse momento que eu decido que nunca mais na vida me apanham em cima de um veículo onde a única coisa que me separa da chuva é... é nada, senhores, NADA.
Naquela azáfama de pegar em tudo o que me poderia ser útil, tinha pegado numas luvas de mota de Verão, fresquinhas, bem boas. E rotas. E 2 km depois (relembro que no total iríamos percorrer 147...) já não sentia as mãos, de molhadas e geladas que estavam.
A parte boa da chuva, para além de nos chover em cima, é que os carros à frente e ao lado a atiram toda diretamente para cima de nós. O que é também dá pontos é o capacete não ter limpa para-brisas. Porque... não há para-brisas, senhores, NÃO HÁ PARA-BRISAS. E não é que o que eu tenha levado na fronha fosse uma leve brisa...

Tirando a chuva, outra coisinha boa disto de eu e as motas é eu não mexer um único músculo enquanto lá estou em cima. O rapaz bem vai apontando a paisagem, os arrozais de Alcácer, etc. Mas filho, percebe uma coisa: quando estou em cima de uma mota em alta velocidade com lençóis de água na estrada, a última coisa que vou fazer é olhar para o lado. E quando tu tiras a mão do guiador para me mostrar os mémés a pastar que-bonitos-que-eles-saõ, gela-se-me o sangue e perco 30 anos de vida por cada segundo em que a tua mão se passeia fora do guiador.
E quando o sangue gela, os músculos prendem (mais do que já estavam) e esta pessoa não se mexe. É um ciclo vicioso.

A verdade é que da primeira vez que montei naquela mota, o rapaz disse: "Vá, só tens de tentar não te mexer demasiado, e o resto é pacífico." Como é que eu interpretei esta informação? Da seguinte forma: "Não te mexas, senão a mota desequilibra e caímos e... não queres cair, pois não?!" Foi assim que me soou. E é tão só por este motivo que eu não me mexo quando lá estou em cima.

Então e tirando tudo isso, foi bom?
Sim. Durante 140 km estive encharcada, a levar com chuva em cima, frente e dos lados, com comichão em todo o lado - nunca ninguém endereçou esta importante questão: o que fazer quando temos comichão na ponta do nariz e não podemos mexer-nos?
Outra coisa chatinha é eu ter tiques com o cabelo. Tipo aqueles tiques à beto. Esta pessoa mexe no cabelo de 2 em 2 segundos. Saber que tenho um capacete na tola e que não posso mexer no cabelo (não posso mexer em nada, na verdade), também não ajuda.

Porra, gosto mesmo de andar de mota.


* Obviamente não fui autorizada a levar o secador, ficou em terra.

6 comentários:

  1. Oh senhora... na piscina estava mais encharcada e não se queixou lol
    Isso do medo das motas é falta de habito. Mais uns passeios com o "Mr. Husband" e a coisa vai la (E com "coisa" não me refiro à top case).
    Venham mais passeios de mota, porque mesmo que não os adores, ao menos dão bons blogs ;)

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    1. Acho que não queres que te explique a diferença entre estar de molho a 30 graus com um fato de banho super fashion, e estar encharcado de chuva gelada e suja!!!!
      Se o medo das motas vai lá com o hábito, então confirma-se que nunca irei perder o medo, porque a experiência foi suficientemente esclarecedora! Ahahah
      Obrigada por teres passado por aqui ;) Beijo

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  2. Como sabes, sigo-te no Instagran, mas aqui acho que nunca tinha estado.....
    Só agora percebi o que tenho andado a perder....ahahahaha
    Que se dane Camões ou Pessoa.
    É dos melhores textos que já vi.
    Ahahahahahah
    Ai Luís....o que tu foste fazer....ihihi

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    1. O meu seguidor mais querido não conhecia o meu blog?! Shame on you!!! Só por causa disso devias ler tudo de seguida, para aprenderes a andar atento!!

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    2. Por aqui o partnerin crime tb é fã
      Nada como ficar debaixo da ponte à espera que a chuva pare

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  3. Ahahaha muito bom! Também eu sou motard por afinidade, mas cá por casa existem uma espécie de intercomunicadores (que devem ter um nome próprio) o que melhora em grande parte a viagem, porque podemos conversar sempre que o queiramos fazer, vale o investimento.

    Ah também a mim não me deixam levar secadores, #estoucontigo

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